Avelino Gambim Júnior

HELENISMO E AS SOCIEDADES CLÁSSICAS OCIDENTAIS:  UMA BREVE REFLEXÃO



Já alertava Marc Bloch [2001] que o ofício do historiador não é buscar as origens, já que o historiador é fruto de seu tempo, com suas preocupações e anseios. Logo, ao estudar a história social das sociedades antigas devemos primeiro nos indagar como este tema tem sido apropriado pela historiografia ocidental e o porquê da antiguidade Grécia e Roma ter este apreço tão grande nos estudos históricos, às vezes em detrimento de outras sociedades antigas, não apenas no “velho mundo”, mas igualmente no “novo mundo”.

A Antiguidade clássica, aqui entendida como uma periodização tradicional que ressalta as sociedades grega e romana liga-se de muitas maneiras à sociedade moderna ocidental [Funari 2002, 2004], fazendo parte da nossa história enquanto colonizados por europeus e sendo antepassados dos mesmos. Temos um elo de identidade enquanto cultura ocidental européia que nós latino americanos herdamos, já que os europeus elegeram a cultura greco-romana como um ideal de cultura e sociedade [Pinsky, 2010].

Primeiramente devemos explanar brevemente sobre o legado cultural, a política, o pensamento e a mitologia dos gregos e romanos da antiguidade, e em seguida explicar o que é o Helenismo e comparar com a nossa sociedade hoje globalizada, cujos elementos culturais das sociedades greco-romanas herdados são muitos, a começar pela própria língua portuguesa, por exemplo, que apesar de ter outras contribuições de outros povos na península ibérica, teve o latim como base, latim falado pelos antigos romanos, além de várias palavras de origem grega, que também fazem parte de nossa língua e é claro a ideia de democracia e república, provindos da Grécia e Roma Antiga.

Apesar de a “Magna Grécia” ter sido formada por colônias em todo o Mediterrâneo ocidental, que além de incluir colônias no sul da Itália, também incluía colônias na França e na Espanha, por exemplo, é somente a partir do período que vai do século IV a.C. com as conquistas de Filipe II e seu filho Alexandre da Macedônia até a conquista romana da Grécia no século II a.C. que elementos culturais como a política, filosofia e a mitologia influenciaram vastas áreas desde o oriente do mediterrâneo, o Egito na África e extendendo-se pelo oriente, incluindo a Mesopotâmia e chegando até a Índia [Funari, 2003].

É importante frizar que durante o período helenístico, a convivência de inúmeros povos, com dezenas de línguas e culturas diferentes, era governada por elites macedônicas que se comunicavam através da língua grega [Funari, 2003], fazendo com que houvesse uma profunda e gigantesca troca cultural. O helenismo não deve ser simplesmente encarado como mais um período da história, ou mesmo dar importância somente aos gregos neste processo, já que foram fundados importantes centros culturais da época como Alexandria, no Egito e Antioquia na Síria [Silva, 2015].
Essa profusão e troca cultural só irá acelerar mais e se expandir por todo o Mediterrâneo e a outros locais como a Europa Ocidental, o oriente médio, e o norte da África, a partir do século I a.C. Lembrando que o sul da Itália já havia sido colonizado pelos Gregos, e quando os romanos conquistaram a Grécia, as elites aprendiam o grego e liam e discutiam suas obras na filosofia, na política, nos códigos jurídicos, na arquitetura e o plano ortogonal das cidades e na mitologia, porém com uma reelaboração própria dos romanos que absorviam e transformavam muitas das culturas que tiveram contato [Funari, 2003], pensando neste aspecto a própria Roma imperial pode ser considerada como um centro helenístico [Silva, 2015].

Mas como a cultura greco-romana chegou até nós? Primeiramente, ao falarmos de cultura ocidental, de Europa, é comum também falarmos de tradição judaico-cristã, já que estes se conectam na antiguidade, no período helenístico grego e  imperial romano [Silk, 1984], lembrando que conceitos importantes foram incluídos no judaísmo e no próprio cristianismo, além do fato de Roma ter adotado o cristianismo como religião oficial, de modo que o mundo greco romano sempre esteve presente como legado à Europa, primeiramente colonizada e posteriormente tendo adotado também o cristianismo [Funari, 2003].

Apesar de sempre presentes ao longo da Idade Média europeia, ora pensada como um passado decadente, ora lembrada como uma herança cultural, será apenas no renascimento que as formas de expressão das sociedades clássicas ocidentais, nos idos dos séculos XIV e XV, principalmente na Itália, cresceram na Europa de maneira mais explicita, como uma valorização de um passado romantizado das antigas Grécia e Roma, através da inspiração na literatura, na filosofia, das artes plásticas e da arquitetura, o que trará profunda influencia na formação do que chamamos de mundo ocidental estando ligado a importantes conceitos como Humanismo e Reforma [Silva, 2015], e ao nascimento ainda incipiente de um colecionismo, através da escavação [pagas por mecenas] e violação de tumbas dos antigos romanos [como foi imortalizado pelo pintor Caravagio] que daria origem aos gabinetes de curiosidades durante o iluminismo [Trigger, 1992] que daria origem aos primeiros museus no século XIX [Schwarcz, 1993].

Será no iluminismo no século XVIII, que os discursos de um elo de identidade e inspiração nessas sociedades, irá ganhar mais ímpeto e força, influenciando enormemente a filosofia segundo um momento que a Europa vivia, da ascensão da burguesia e questionamento do antigo regime, que culminará na Revolução Francesa [Funari, 2003; Silva, 2015]. Já na América, especificamente nos EUA, servirá de inspiração no ideal de um sistema político republicano além de inspirar na arquitetura ortogonal das cidades da América espanhola [Funari, 2003].

Até hoje a cultura Greco romana é reapropriada pela cultura ocidental, muitas vezes em detrimento de outras culturas antigas e infelizmente sendo utilizada como discurso de uma pretensa superioridade racial e cultual dos gregos e romanos, embasados nos conhecimentos científicos da época como o evolucionismo social que dividia sociedades humanas em selvagens, bárbaros e civilizados [Morgan, 1877] e as teorias racistas que explicavam que além de um pretenso “milagre grego” de uma superioridade cultural, a cultura grega seria “superior” também devido uma questão de uma “superioridade racial” da raça branca, fortemente influenciados pelo darwinismo social [Schwarcz 1993], que será constantemente retomada, como o caso mais emblemático já no século XX, na Alemanha Nazista inspirada na Grécia Antiga, e novamente na América do Norte, nos Estados Unidos, dessa vez inspirados no imperialismo romano [Funari, 2003].

Em relação a este “milagre grego”, como bem coloca Funari [2003], esta é uma verdadeira falácia, já que cai no erro gravíssimo de negar que as culturas clássicas foram igualmente influenciadas por outras culturas, como os egípcios e a mesopotâmia. Na realidade estes discursos de superioridade, sempre foram utilizados politicamente para justificar ora o imperialismo e neocolonialismo, assim como regimes nazifascistas [Schwarcz, 1993; Funari, 2003].

As culturas não morrem, mas se transformam, mudam as sociedades e se tornam em outras, mas é importante se dar conta da profunda influencia destas sociedades greco romanas sobre o pensamento ocidental, ao mesmo tempo que devemos dar-nos conta que os contextos onde a filosofia, mitologia, política, arquitetura e artes plásticas estavam inseridos são imensamente diferentes da sociedade ocidental da atualidade e reapropriados e resignificados de acordo com uma lógica judaico cristã, ocidental e capitalista.

O que foi exposto permite refletirmos como a cultura, a política, o pensamento filosófico e a mitologia, iniciada pela “globalização” do helenismo e império romano sempre serviram como alegorias para as diferentes ideologias e interesses modernos ocidentais, em trânsito ao longo da história, sendo ultimamente apropriado por discursos que seguem uma lógica capitalista [Doberstein, 2002], o que apenas demonstra que os discursos e a subjetividade de quem conta uma história de acordo com a época e os atores sociais envolvidos nesta construção.

Fica-nos apenas uma pergunta: Se é importante estudar as sociedades Gregas e Romanas [e de fato é importante], por que não é feito o mesmo com as sociedades antigas da América Latina? As sociedades Maia, Inca e Asteca, por exemplo, foram identificadas como sociedades clássicas, inclusive com elementos que a caracterizariam com um modo de produção asiático [Marx, 1867; Cardoso, 1986; Cardoso & Bouzon, 1990]. Talvez, uma primeira resposta poderia ser para fazermos estudos comparativos, tirando toda a carga evolucionista social e darwinista social [Trigger, 2003], entre o “velho mundo” [incluindo não apenas Grécia e Roma, mas a África e extremo oriente] e o “Novo Mundo”, incluindo também as sociedades indígenas da América Latina, como por exemplo, os dados trazidos pela arqueologia sobre as sociedades amazônicas [Roosevelt, 1992, 1993; Schaan, 2004; Gomes, 2017; Rostain, 2012].

Uma chave para refletirmos sobre isso seria através de um pensamento decolonial, indo de encontro com o que tem se defendido como giro decolonial [Ballestrini, 2013] onde se poderia discutir uma história indígena no continente latino americano como as sociedades indígenas [Carneiro da Cunha, 1993] e também africanas e afrodescentes [Reis & Andrade, 2018], ponderadas por pensadores latinos respondendo a questões que sejam de nosso interesse e condigam com a nossa realidade, e não apenas como um passado ibérico europeu como uma forma de superação do padrão mundial de poder capitalista, no que podemos propor uma maior interculturalidade [Reis & Andrade, 2018] na pesquisa, ensino e extensão referentes ao estudo das sociedades antigas.

Sem abandonar o legado dessas culturas greco-romanas, também estudadas sob uma perspectiva pós-colonialista, crítica e interdisciplinar [Garraffoni, Funari & Pinto, 2010], devemos buscar formas de estudar a Antiguidade para além do colonialismo e euro centrismo levando em consideração, as diversas sociedades antigas do continente Africano, assim como as sociedades da Antiguidade dos Andes, do Caribe, da Amazônia, enfim do continente americano como um todo.

Referências
Me. Avelino Gambim Júnior é professor substituto no Curso de História Universidade Federal do Amapá [UNIFAP]. Arqueólogo colaborador no Centro de Estudos e Pesquisas Arqueológicas da Universidade Federal do Amapá [CEPAP / UNIFAP].

BALLESTRIN, Luciana. América Latina e o giro decolonial. Revista brasileira de ciência política, n. 11, p. 89-117, 2013.
BLOCH, Marc. Apologia da história: ou o ofício de historiador. Rio de Janeiro: J. Zahar, v. 200, p. l, 2001.
CARDOSO, Ciro Flamarion Santana. Sociedades do antigo oriente próximo. Ática, 1986.
CARDOSO, Ciro Flamarion; BOUZON, Emanuel; TUNES, Cássio Marcelo. Modo de produção asiático: nova visita a um velho conceito. Editora Campus, 1990.
CARNEIRO DA CUNHA, Manuela. Amazônia, Ethnologia e História Indígena. 1993.
CARVALHO, Margarida Maria de; FUNARI, Pedro Paulo A. Os avanços da História Antiga no Brasil: algumas ponderações. História [São Paulo], v. 26, n. 1, p. 14-19, 2007.
DE NOVAIS REIS, Maurício; DE ANDRADE, Marcilea Freitas Ferraz. O pensamento decolonial: análise, desafios e perspectivas. Revista espaço acadêmico, v. 17, n. 202, p. 01-11, 2018.
DOBERSTEIN, Arnoldo Walter. Estatuários, catolicismo e gauchismo. Edipucrs, 2002.
FUNARI, Pedro Paulo de Abreu. Antiguidade Clássica: A história e a cultura a partir dos documentos. Campinas, São Paulo: Editora da Unicampi, 2002.
FUNARI, Pedro Paulo de Abreu. Grécia e Roma. São Paulo: editora contexto, 2003.
GARRAFFONI, Renata Senna; FUNARI, P. P. A.; PINTO, Renato. O estudo da Antiguidade no Brasil: as contribuições das discussões teóricas recentes.2010.
GOMES, Denise Maria Cavalcante. Politics and ritual in large villages in Santarém, lower Amazon, Brazil. Cambridge Archaeological Journal, v. 27, n. 2, p. 275-293, 2017.
HINGLEY, R. O Imperialismo Romano: novas perspectivas a partir da Bretanha. São Paulo: Editora Annablume, p. 9-25, 2010.
MARX, Karl. Capital, vol. 1, trans. Ben Fowkes [New York: Vintage, 1977], v. 382, p. 154, 1867.
MORGAN, Lewis Henry. Ancient society [1877]. General Books, 2009.
PINSKY, Jaime. As primeiras civilizações. São Paulo: Editora contexto, 24ª Ed, 2010.
ROOSEVELT, Anna Curtenius. Arqueologia amazônica. História dos índios no Brasil, v. 2, p. 53-86, 1992.
ROOSEVELT, Anna Curtenius. The rise and fall of the Amazon chiefdoms. L'homme, p. 255-283, 1993.
ROSTAIN, Stéphen. Islands in the rainforest: landscape management in pre-Columbian Amazonia. Left Coast Press, 2012.
SCHAAN, Denise Pahl et al. O povo das águas e sua expansão territorial. Revista de Arqueologia, v. 17, n. 1, p. 13-32, 2004.
SCHAAN, Denise Pahl. The Camutins chiefdom: rise and development of social complexity on Marajó Island, Brazilian Amazon. 2004. Tese de Doutorado. University of Pittsburgh.
SCHWARCZ, Lilia Moritz. O espetáculo das raças: cientistas, instituições e questão racial no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.
SILVA, Rodrigo Carvalho. O nome do fogo: Relações entre a Ekpyrosis, Astrologia e Milenarismo no mundo helenístico romano. 2009.
TRIGGER, Bruce G. História do pensamento arqueológico. 1992.                

21 comentários:

  1. Como o helenismo está presente nos livros didáticos?

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    1. Os livros didáticos tem mudado a forma de abordar o Helenismo, porém ainda há uma certa tendencia em priorizar um ponto de vista em detrimento de outros, porém esta concepção tem mudado nos ultimos anos.

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  2. Boa Tarde Avelino. Interessantes considerações.

    A BNCC para o 6ºano do ensino fundamental traz em suas orientações para o ensino de História uma perspectiva comparativa entre o mundo clássico e as civilizações da América Pré-Colombiana. Gostaria de saber o que pensa dessa perspectiva, ao apontar no texto, a possibilidade de se refletir sobre os antigos por meio de estudos decoloniais.

    Alessandro Mortaio Gregori

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    1. Boa noite Alessandro, penso que esta perspectiva comparativa depende muito do professor para ocorrer de maneira não a levar em consideração os aspectos culturais, e o modos de se explicar a história de cada povo, de cada sociedade para que não caiamos numa comparação utilizando pressupostos do evolucionismo cultural e eurocêntricos.
      Um dos primeiros passos para vencermos este obstáculo é buscar auxílio na antropologia, nós como professores de história devemos buscar e discutir em sala de aula temas como diversidade cultural e multivocalidade, procurando demonstrar em primeiro lugar que existem diferentes formas de pensar o tempo, e outros modos de contar e pensar o que chamamos de história. É difícil pensar em uma resposta a esse problema, mas penso que estamos nos permitindo de fato problematizar os discursos oficiais de periodização histórica, como por exemplo a divisão quadripartite da história (antigo, medieval, moderno e contemporâneo) que tem origem no Iluminismo pós revolução francesa. Sabemos que essa divisão não pode ser vista acriticamente e obviamente, nem mesmo é aceita em todo o mundo. Ela diz respeito ao advento do capitalismo, e dentro da narrativa clássica e tradicional é pensada desde o século XIX, iniciando na pré-história e findando na idade contemporânea. Inclusive o próprio termo pré história tem origem no século XIX (no que arqueólogos como Childe e tantos outros no início do século XX iriam se apropriar). Essa divisão do tempo foi criada pensando em níveis de "complexidade cultural e social" ou mesmo tecnológico das sociedades, numa escala evolutiva do "menos evoluído" ao "mais evoluído", não levando em consideração as escolhas e as pessoas como atores sociais.

      Penso que além de antropologico e sociológico o problema seja também de cunho filosófico, no sentido tentarmos nos permitir que enxerguemos de modo simétrico as diversas formas de explicar como as coisas são, e as diferentes formas de ser e existir no mundo, ao que chamamos de ontologias. O problema é que isso acaba indo de encontro com nossa ontologia ocidental cartesiana, nossa explicação de mundo e da própria existência. Isso não quer dizer que devamos substituir uma explicação de mundo pela outra, mas colocarmos em simetria, como outras possibilidades de explicação histórica. Isso pode ser feito em sala de aula trazendo informações provindas da arqueologia e da tradição oral. Na verdade esse problema não é algo enfrentado apenas no ensino, mas na nossa própria concepção de história, de como fomos ensinados e ensinamos, como produzimos trabalhos científicos e nos trabalhos científicos que lemos, e reproduzimos. A história indígena é um exemplo de como poderíamos unir as informações provindas do campo da história, arqueologia, antropologia e linguística e procurar outras formas de no ensino de história antiga incluirmos a temática indígena, trabalhando em sala de aula através de mitologias e narrativas orais, relatos etno-históricos e dados arqueológicos formas de contar a história antiga dos povos originários. Dessa forma, não se abandonaria o estudo das sociedades gregas e romanas, mas se procuraria mostrar outras sociedades, seja do continente americano, seja do continente africano, ou da Ásia, ou da Oceania, etc...

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    2. nso que temos ainda muito que discutir sobre formas de "não jogar a água do banho com a criança", isto é, não se trata de substituir, no caso da história antiga, uma visão de mundo pela outra, ou algumas sociedades por outras, mas procurar formas de discutir em sala de aula essas sociedades de uma forma mais heterogênea. E isso significaria modificar a narrativa clássica da própria concepção de história no ocidente. Porém, lembremos que estamos na América Latina, e temos que perguntar qual o ponto de vista da história estamos lidando? Qual o público que se destina essas narrativas? Qual a realidade dos meus alunos? A principal lição que aprendemos é que a história, ou as histórias são plurais e multivocais. Isso não significa que tudo seja valido, porque ainda nos embasamos fortemente nas fontes documentais (escrita, cultura material) e nas fontes orais, etnografias, estudos linguísticos, e no cruzamento dessas mesmas fontes acrescidas pelo discernimento crítico das mesmas, na averiguação lógica das mesmas, enfim, não abandonamos o método, mas devemos estar abertos a outras vertentes teóricas, por isso devemos nos permitir mais antropologia e filosofia, no reconhecimento do outro, da alteridade e do levá-lo a sério, e da filosofia para termos a humildade de reconhecer que a história tradicional, desde o início do século XX já (aos poucos) combatida, é apenas uma forma a mais de contar e periodizar as ações das pessoas no tempo.

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    3. O BNCC acaba desse modo, de um jeito ou de outro, privilegiando uma visão eurocentrica,mas nosso desafio é exatamente procurar saidas de como essas comparaçoes devem ser feitas.

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    4. Temos que insistir nos contextos locais, buscar "costurar" por dentro da BNCC, formas de driblar um ensino eurocentrico e aproveitar uma perspectiva comparativa de um modo decolonial.

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    5. Olá Avelino,

      Compreendo sua posição em relação ao recorte temporal quadripartido da História e sua presença como eixo estruturador da história ensinada. A primeira versão da BNCC tentou realmente subverter esse arranjo cronológico por uma visão plural dentro da ideia de "mundos" e "cosmologias". Entretanto a força do tradicionalismo fez a proposta "despencar". A meu ver, é necessário encontrar outros espaços para conteúdos tradicionais, pois ainda são representativos de diversas práticas culturais contemporâneas. Me pareceu, na versão final da BNCC, que a perspectiva comparada, como raciocínio histórico, possa ser uma alternativa. Entretanto, vale apontar a sua consideração em relação a não se cometer equívocos respaldados na ideia de "superioridade"/"inferioridade".

      Obrigado pela resposta,

      Alessandro Mortaio Gregori

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  3. Olá, gostei de seu texto. Gostaria de saber sua opinião sobre o ensino da história da filosofia grega. Você concorda que existe, tanto no meio escolar como até mesmo no acadêmico, uma série de tendências eurocêntricas que privilegiam a civilização grega como o berço da filosofia não só ocidental, mas de toda a História, excluindo suas influências afro-asiáticas como observado no texto? Você acredita que, nesse caso, o professor-pesquisador em sala de aula deveria não apenas apontar para essas influências, mas também que outros povos do Mundo Antigo se engajaram no pensamento filosófico racional e abstrato? Creio que isso poderia alavancar uma nova concepção da História, afastada dos ditames eurocêntricos e mais próxima de um diálogo intercultural que privilegie a diversidade étnica.

    Obrigado.
    Daniel Roberto Duarte Granetto.

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    1. Boa noite Daniel. Penso sim que podemos fazer isso, mas isso demanda que nós como professores possamos nos aproximar de outras áreas das ciencias humanas como antropologia, e a arqueologia por exemplo. Essas disciplinas permitem que tenhamos uma maior entendimento da alteridade e da diversidade cultural, e auxiliam-nos no entendimento de outras sociedades.

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  4. Muito bom o artigo, Me. Avelino Gambim Júnior, compreende-se o período de domínio da cultura grega no mundo antigo que se seguiu após a morte do imperador Alexandre, o Grande. Alexandre não levou apenas pilhagens e guerras, tampouco assolamento de tradições e culturas. O império alexandrino caracterizou-se por levar também a cultura grega chamada helênica para todas as regiões que conquistou. Caracterizou-se também por integrar os elementos das culturas conquistadas, como aqueles da cultura persa da qual Alexandre era um grande admirador, com os elementos da cultura grega. Esse processo construiu um mundo novo, ecumênico e integrado na Antiguidade, ou seja o Henismo !
    É sabido dizer que Alexandre Magno, ou Alexandre, O Grande, foi um dos maiores conquistadores, estrategistas militares e administradores políticos da história universal?

    Bruno Ribeiro de Melo

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  5. Bom dia Bruno, obrigado pela pergunta e que bom que gostastes do texto. É importante lembrarmos de não romantizarmos o helenismo. Enquanto historiadores, acostumados a enxergar na longa duração, não podemos esquecer que personagens como Alexandre, Julio Cézar, entre tantos outros da antiguidade infelizmente são lembrados por governos autoritários como exemplos a serem seguidos. Logo o nosso encantamento por esses periodos históricos não podem ser pessoalizados a um indivíduo. Até porque existe toda uma historiografia construida em cima desses personagens, com propositos definidos. O interessante do periodo helenistico consiste no encontro de culturas e nas consequencias para os processos historicos.

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  6. Este comentário foi removido pelo autor.

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  7. É de grande importância esse giro decolonial para discutir uma história indígena no continente latino americano além do estudo das sociedades Maia, Inca e Asteca e as sociedades indígenas. Porém como você cita no artigo o imperialismo se reapropriou da cultura grega e a ressignificou de acordo com um lógica judaico cristã, ou seja, a cultura greco-romana está enraizada em nossa sociedade sendo impossível não aborda-las no currículo escolar. Minha pergunta é, devido ao curto tempo que os professores tem para tratar dos assuntos, de que forma você pode encaixar o estudo, tanto das culturas dos povos ameríndios e afrodescendente com o estudo decolonial, junto ao estudo da cultura greco-romana e se de algum modo este estudo pode estar em paralelo com as aulas de filosofia?

    Fernando Müller

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  8. Boa tarde Fernando,

    Novamente respondo que não há uma resposta categórica a isso. Como eu disse não é intenção substituir uma coisa por outra, e isso acaba impor outro problema, a questão de um cronograma a ser cumprido, mas penso que vai do professor fazer escolhas do que deve ser visto procurando não prejudicar os alunos. Penso que existem sim paralelos entre as aulas de filosofia, e que inclusive facilitariam o entendimento dos alunos mas aulas de história sobre os temas discutidos sobre história antiga.

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  9. Excelente texto. Parabéns.

    Para meu questionamento trago um fragmento do próprio texto:
    "A Antiguidade clássica, aqui entendida como uma periodização tradicional..."
    Como problematizar essa periodização com o aluno secundarista, sem cometer o erro de apagar de sua mente a necessidade didática da mesma, e sua extrema necessidade também para o vestibular, uma vês que os conhecimentos de história são cobrados com base na periodização tradicional?

    ALLEF GUSTAVO SILVA DOS SANTOS

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  10. Boa noite Allef, está é a grande questão, é o nosso grande desafio. Não podemos é fazer um ensino sem crítica, se dependermos do enem e vestibulares a história que os alunos aprenderiam seria um tanto reducionista. Penso que podemos ser sinceros com os alunos. Não estou querendo achar fórmulas mágicas, é realmente um desafio e um caminho árduo para nos historiadores e professores de historia.

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  11. Opa,tudo bem?
    Vimos que a cultura "greco-romana" chegou até nos pelas tradições judaico-cristã,já que eles se entrem ligaram no período helenístico grego e imperial romano.
    Além dessa ligação,existiu outro método de aproximação cultural greco-romano na civilização de hoje em dia?

    Kaio Barros de souza

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  12. Boa tarde Kaio,

    Não entendi a pergunta, mas vou ver se respondo o que entendi. Estas perguntando se existiu outro periodo cosmopolita e "globalizante" na antiguidade da história humana?

    Se for esta a pergunta, a resposta é: com certeza! As culturas humanas sempre influenciaram e foram influenciadas uma pelas outras, e elas ocorrem em praticamente todos os continentes. Claro que em contextos insulares (como o Japão e a Austrália por exemplo) penso que esses contatos ocorram de forma diferenciada,

    Temos exemplos de contatos e florescimento cultural na antiguidade andina, da mesoamérica, no sudoeste norteamericano, no Egito e a África, na China e na Índia, etc.

    Enfim, são varias Histórias a serem contadas.

    O que vivemos nos dias de hoje, é que é algo diferente, de fato todas as sociedades do mundo estão conectadas de uma forma ou de outra. Mas as coisas não parecem ter sido assim antes, eram muito mais regionais, mas ainda assim impressionantes.

    Espero ter respondido de maneira adequada,

    Atenciosamente,

    Avelino Gambim Júnior

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